Nos últimos anos as mulheres começaram, por fim, a assumir os cabelos brancos. Durante muito tempo, demasiado, diria, cobriram com tintas as cabeleiras prateadas porque tinham receio de ser olhadas como pessoas idosas, mesmo que tivessem apenas trinta ou quarenta anos, como acontecia em muitos casos. O cabelo branco nas mulheres foi quase sempre visto como prova de envelhecimento, fragilidade e fealdade.
A verdade é que o ideal de beleza feminina foi e continua a ser o da inocência e da juventude, associadas à potência da maternidade. Uma mulher de cabelos brancos representa para a maioria uma pessoa que já tem bastante experiência de vida e que se encontra longe do ideal da inocência. Nos últimos anos, o nosso olhar mudou.
Uma mulher de cabelos brancos é, cada vez mais, um símbolo de força e de transparência na sua relação com a própria idade. Atenção que não digo que é melhor pintar ou não pintar o cabelo branco, não tem de ser uma equipa contra a outra. Ambas podem existir e coexistir. Mas a partir do momento em que começámos a ver que existem muitas mulheres, e algumas em cargos de poder, que deixaram de pintar o cabelo, sentimo-nos mais livres para tomarmos essa decisão, se nos apetecer, claro. Há mais de uma década, quando a minha mãe começou a ficar com o cabelo prateado, insistia imenso com ela: «Pinta o cabelo, mãe. Ficas mais velha assim grisalha».
Ao que a minha mãe respondia: «Eu gosto do meu cabelo branco. Não vou pintar.» E eu, agora envergonho-me, não entendia esse gosto e considerava desleixo ou preguiça não ir ao cabeleireiro pintar as mechas brancas. Também em mim existia essepensamento machista, esse ideal de beleza perpetuado por uma sociedade patriarcal, que me fazia crer que as mulheres que deixavam de pintar o cabelo tinham deixado de cuidar de si próprias e de querer parecer atraentes.
Ainda não é assim tão fácil para todas as mulheres assumirem o seu cabelo branco. Recentemente houve uma polémica com uma das apresentadoras de televisão mais populares do Canadá, Lisa LaFlamme, porque foi demitida do canal CTV News após trinta e cinco anos de trabalho. Segundo a imprensa canadense, um dos motivos do despedimento foi a decisão da apresentadora de manter os cabelos grisalhos.
Assim como milhares de mulheres, Lisa decidiu parar de pintar o cabelo durante a pandemia. O problema foi que a direcção do canal em que trabalhava não aprovou o seu novo visual e começaram a fazer comentários humilhantes sobre o seu aspecto. Perguntaram-lhe se estava disposta a pintar o cabelo mas Lisa não aceitou. Foi despedida. O canal de televisão negou ser esse o motivo do despedimento, alegando ser uma questão de «negócios», mas ninguém ficou convencido, muito menos a apresentadora que viu a sua carreira chegar ao fim naquele canal com apenas cinquenta e oito anos.
A situação de Lisa veio confirmar que os cabelos brancos são ainda motivo de preconceito, vistos como menos atraentes no caso das mulheres ¬— desconhece-se um caso idêntico passado com um homem. Eu própria tenho dúvidas em assumir os cabelos brancos. Ainda não são muitos, mas já começam a notar-se umas riscas finíssimas de neve. Penso que mais tarde ou mais cedo irei assumi-los, até porque acho que nos dias de hoje é rebelde fazê-lo e eu sempre tive uma atracção para pisar o risco.
Fonte: www.maxima.pt